quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

devoção

De fato, ele era um rapaz muito bonito. A sua forma desleixada, quase preguiçosa, o seu andar sinuoso constituiam um corpo relaxado e extremamente sensual. Os cachos marrons possuiam um brilho praiano que emergia entre os cabelos apagados dos habitantes da região, eram espirais grandes e brincalhonas, possuía uma aura bela e juvenil. Costumava usar colares de miçangas coloridas que ele mesmo criava sobre uma camiseta preta do corpulento pai, folgada no seu mirrado corpo adolescente. Carregava seu violão antigo em incursões que fazia pela mata que cercava a cidade. Um ambiente intrincado de plantas e animais, cercas, arames. A lama conseguia sujar a barra dobrada dos seus jeans esfarrapados durante a caminhada.
Sentava na terra e dedilhava alguma melodia que lhe agradasse. Permitia que o silêncio lhe invadisse de calma até se sentir confortável o suficiente para cantar alguma canção à floresta. Dedicava-lhe o seu amor, pedia perdão pelos seus pecados, amenizava as suas angustias. O ritmo era a poesia da natureza.
Quando cessava, despia-se de suas roupas e acariciava o solo molhado. Estendia o braço pelo chão e se deitava. A chama que se acendia aos poucos era alimentada pelas mãos que apalpavam o próprio corpo. Concentrou-se. E uma gota pousou em seus lábios, salgada e forte. Em seguida, choveu.

2 comentários:

bruniuhhh disse...

sensivel, chuva

Rita disse...

Te abraçaria depois disso, que puro.
nhaaa