sexta-feira, 7 de outubro de 2011

nina, tu és presente

através destas palavras
silenciosas
(porque eu só consigo ser eu mesmo
em silêncio)
espero que seu coração
note
que também nunca esqueci de tu
meu amor
mais antiga que cinco vezes

a minha idade
tão jovem
tão vivida
tão amorosa
tão sincera
quanto uma criança
que tem a metade
dos meus dezoito

teus noventa e oito anos
me encantaram
desde estórias do sertão
de sapos curandeiros
rios se avolumando e perecendo
num ciclo intermitente
longas caminhadas
sob mil sóis que rachavam a sua pele
moça e belíssima

até os casos
da linha e da agulha
das mulheres do cacau
tuas clientes
dos seus santos remédios
das broncas
das peraltices dos teus filhos
das tuas bodas de 50 anos
de casamento
da peregrinação sertaneja
sofrida
ao litoral
a este lugar úmido
e selvagem

mas muita mais a tua doçura
da sua energia
da sua calma
e da sua raiva
sempre acompanhada de
um bom riso debochado

de si mesma
da bestagem do outro

e invejem essas pessoas de hoje em dia
falsos místicos, falsos espiritualistas
porque a senhora
possui uma compreensão
uma incapacidade de julgar
uma compaixão
e poder de aceitação

que nunca mesmo consegui
encontrar em outro lugar

este seu brilho
que mesmo em momentos
de grande dor
fisica emocional espiritual
em qualquer instancia
a senhora

meu amor mais silencioso
nunca deixou de ocultar

e à presença das tuas memórias
nunca deixarei de derramar
uma doce lágrima
não de nostalgia
de dor pelo que poderia
ter acontecido


mas de saudades
pelos bons sentimentos
que as lembranças
me reanimam

2 comentários:

Rita Loureiro Graça disse...

Eu te quero abraçar nesse sentimento. não tem um jeito de te dizer o que isso é

Georgia disse...

Perfeito....