sábado, 11 de dezembro de 2010

na casa do amor

quando a sexualidade está propriamente exaltada, cultivada durante semanas, meses, me vem uma sensibilidade nova, uma tendência a viver sensualmente. Meus movimentos, meus gestos sãos mais circulares e de uma lentidão suave. Nesses momentos, aspiro por leveza e conforto, por um gentil toque ou por uma presença especial - essa incógnita. Em outras ocasiões, é fauve, selvagem, dominadora, ativa e gritante. Existência animalesca que dilacera, a mim e ao mundo. Não me é permitida, e nem permito, a coexistência desses dois espíritos, de naturezas distintas, de origens compartilhadas, ovelha negra e paz doce do meu coração.
espelho minha sensualidade (ao menos, interior) nos outros. Os transeuntes são afetados por ela, e se tornam tão ou mais sensuais que eu. Vejo essas pulsões sexuais em toda ação, de todo ser humano que desejo. Desejar o sexo é tão natural. Perco a conta de quantas pessoas me tocam profundamente com olhares esguios, pulsos distraídos, ombros e quadris dançantes enquanto consultam seus relógios, estendem o braço, acenando para o ônibus, viram o rosto para olhar o semáforo, enxergam meus olhos e meu olhar, exibem o contorno dos corpos, deslizam as mãos pelos vários fios de cabelos, emaranhados infinitos mutantes. Mão, a manipuladora de todo o prazer. Prazer, afloramento da sensibilidade. Sensibilidade, a Alma e o Tudo.

2 comentários:

Rita disse...

Arrepio.

Menino, as vezes penso que sinto pelos seus sentindos. muitas vezes penso que temos uma forma similar de sentir o simples, o cotidiano, imbuindo ele da beleza que lhe é própria e tão pouco percebida.

Beleza

teo almeida disse...

O cotidiano, a 'banalidade, passou a me inspirar ao passo que percebia que a nossa vivência e as nossas descobertas se dão nele, e não numa condição histórica extraordinária, como uma guerra, uma obra de arte, uma crise ou uma paixão.
Uma vida sem epifanias não é menos genial que a vida de um herói. Clarice Lispector já teceu a sua heroina cotidiana, Macabéa, que, pra mim, é fantástica. Eu não sei se as pessoas não conseguem enxergar, porque essa visão é tolhida durante toda a vida, ou se elas têm medo de admitir que há magia e maravilha no dia a dia. Poucas coisas atingem o patamar da beleza de uma mãe, terna e doce, preparando um bolo em casa.