terça-feira, 7 de setembro de 2010

possuo o tempo

estava sentado numa cadeira defronte ao ventilador observava quieto as bordas da janela à sua esquerda tinha o tempo enrolado entre suas dedos nas suas mãos abertas com as palmas apontando para o teto azul se de manhã ele não se preocupava com os cabelos à noite sua atenção era redobrada escolhia os seus sapatos com a maior severidade e as suas calças deviam ter um caimento perfeito de manhã ele gostava de beber leite e só leite à tarde quando sentia fome se servia com um pouco de sorvete no congelador cajá era o seu sabor preferido de manhã se ele saisse ele vestiria kiltse de manhã gostava de passear por um pequeno bem pequeno bosque perto da sua vizinhança aliás sua vizinha teresa tinha um jardim belissimo tinha certeza de que alguma daquelas flores ou ervas poderiam dar um bom chá mas a sua vizinha teresa não era do tipo sensível pra falar a verdade teresa a vizinha era até um pouco sensivel e quando estava de bom humor ela até conversava com suas flores e bebia chá porque admitamos hoje em dia em tempos de coca cola beber chá é quase um ritual mas ela tinha um trabalho ruim ela era essa secretária de uma grande empresa que tem escritórios em prédios altos e art decó às vezes ela não sabia se trabalhava no Chrysler Building ou no Cristo Redentor e apesar do que todos especulavam e fantasiavam ela não se sentia bem lá as pessoas eram frias uma objetividade de enjoar não que ela fosse um pouco fria também mas depois de se divorciar do seu marido após mais quinze anos de casamento nenhum filho e vários casos "paralelos" ela se sentia só só porque a vida dela girou em torno daquele casamento durante muito tempo e os amigos que ela tinha eram os amigos do marido e depois que ele saiu de sua vida eles foram juntos só ficaram a casa uma pensão mensal e aquele jardim maravilhoso para o qual ela já havia dedicado mais atenção quando fora mais feliz essa pensão dela até que era compreensível o marido a havia mal acostumado a uma vida sem trabalho ser dona de casa era sua ocupação e ele até a ajudou bastante a arrumar esse emprego que de qualquer forma pagava bem à noite ela não tinha para onde ir não saía só às vezes sozinha e às vezes à noite uma amiga sua bem de vez em quando a visitava em casa e depois do jantar essa amiga ia ajudá-la a limpar os pratos à noite depois do jantar e depois da louça lavada e guardada elas continuavam conversando e de vez em quando a amiga encostava a outra no balcão da cozinha e a beijava na boca isso causou um pouco de confusão primeiro depois era só carinho e só a demonstração de que o afeto existia e as visitas eram raras porque ela gostava de ficar em casa com o marido também porque o amava e porque não gostaria de se apegar e nem criar esperanças para algo que nunca aconteceria como as flores que a sua amiga plantava e que nunca cresciam às vezes por displiscência e outras ninguém sabe talvez a sua vida de escritora de programas televisivos fizesse com que seus dedos e suas mãos se habituassem ao labor da escrita e se tornassem impróprias à jardinagem como ela gostava de flores toda semana ela aparecia numa floricultura a poucas quadras do seu apartamento não só porque ela gostasse mas pelo fato de que nenhuma nascesse à tarde aos sábados e aos domingos ela e o marido e o seu pequeno filho iam à praia definitivamente a família inteira era tentada pela praia e ela até que já havia pensado em comprar uma casa de veraneio à beira da praia isso faria bem ao seu espírito eles já haviam experimentado férias na praia e foi uma experiência rejuvescedora quente e viva seus cabelos loiros ficaram mais claros e a sua pele havia adquirido um leve bronzeado que o filho menor não tivera a sorte de pegar o pequeno virara um camarão tinha nove anos de idade e não gostava de brincar de cowboy o far west não tinha nada de esplendoroso para ele gostava de lego e comia pudim de leite com o mesmo vigor de quando brincava no parque da escola com seus amiguinhos quando se tornou mais crescidinho era o menino mais bonito da sala e também um dos mais inteligentes o talento das mãos da mãe dele saíram do papel para o pincel não que ele fosse o garanhão mas as pessoas mais sensatas adoravam a sua amabilidade a sua doçura e os cabelos e a pele queimados pelo sol sua mãe havia feito uma boa escolha de manhã ele ia pra escola e sempre esquecia de escovar os cabelos algumas tardes fazia aula de desenho e em outras dever de casa em alguma tardes saia e nas noites de sexta seus amigos o chamavam para sair tinha dezessete fumava e bebia escondido dos pais uns amigos o haviam introduzido na maconha mas gostava de chá quando se formou numa boa escola de belas artes ele se envolveu com projetos de amigos transitava pelas artes plásticas pela música e pelo teatro um pouco pela moda digamos andava por uns jardins porque achava jardins lugares divinos um pequeno santuário da natureza em cada casa por isso se mudou para a casa ao lado da antiga amiga da sua mãe que lembrava visitar quando era pequeno por causa do seu jardim belissimo que podia observar de manhã e as flores e ervas poderiam dar em chás
havia aquele homem deitado na cama e com um livro nas mãos e com o tempo nos olhos andou em sua direção beijou o seu nariz e depois a sua boca ele tinha cabelos castanhos e mais belos cachos que já vira em toda a sua vida ali havia o seu amor desceu as escadas pegou uma faca abriu a geladeira e cortou alguns tomates trouxe-os para cima e sentou ao lado do seu homem ele pousou o livro ao lado sem deixá-lo ver o que fazia o homem sentado com tomates nas mãos sentiu algo macio descer a sua testa parecia papel deslizar sobre seu nariz ele sentiu o cheiro do cravo e sentiu as suas pétalas sentiu os lábios molhados na sua nuca e os braços que os enlaçava

Um comentário:

Rita disse...

A falta de pontuação foi temporal.
em toda acepção do tempo; gosto da forma como o menino do inicio e o do final se encontram; cíclico.

;)